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nauseabundos

Nauseabundos

Nauseabundos

por Dudude

 

Em um terreno insólito estavam nauseabundos e desacordados com olhos estatelados de escuridão

 

Sobre as cabeças voavam um sem número de coisas translúcidas, atravessavam em uma velocidade estratosférica corpos sem o menor pudor, licença ou consideração. Os corpos perfurados abriam buracos desmedidos que fechavam em um piscar de olhos, e assim seus tamanhos eram alterados, ora pareciam linhas finas e compridas, ora se transformavam em grandes asas de libélulas, oras em imensos girassóis, ora em vermes de todos os tipos em tamanhos monstruosos. Em segundos distendidos estavam como antes, simples, normais como humanos bípedes, caminhando e falando em vozes cálidas e brandas. Ao longe ouviam estrondos, como bombas, o céu mudava de cor, tons de vermelho fulgurantes, azuis indecentes riscavam o vermelho e dessa mistura tudo virava cinza, um cinza severo, duro

Sonho, delírio?

Pura realidade gástrica de tempos de um mundo girante e alucinadamente feroz

Inverossímil

Atrocidades nauseantes

Era o fim?

Não, não era, era apenas a continuação das tempestades humanas que banhavam a crosta da terra carregadas de ressentimentos, esqueceram todos que a vida continuava e que poderia ser leve como a espuma dos antigos mares transparentes e abundantes de vida.

Voltar ao girino, voltar mil vezes voltar para retornarem íntegros e creditáveis ao merecimento índico de um simples dia de sol.

Sentados estavam, pareciam agora pessoas de uma rua qualquer, sentados em uma simples mesa de algum bar

Suas risadas ecoavam baixo, e suas falas mansas agora pousavam sobre a mesa.

Um copo d água!

Não!  um aguardente, sim!

Precisavam desesperadamente entorpecer a realidade daquele intenso instante de uma vida.

 

 

sobre a autora:

 

Há alguns anos e de forma espontânea, a escrita se tornou um meio de expressão para a improvisadora e artista de dança Dudude. “Já há algum tempo tenho no movimento deslizante da caneta no papel um lugar de refúgio; Certamente não sou escritora, mas sou uma escrevedora ávida de tocar o outro em sua sensibilidade, desejosa de sermos e termos uma percepção alargada do que possa significar o viver junto (live together, ensemble). Desejosa também que avancemos em questões ambientais que dizem respeito ao caminhar da humanidade que olha e age no sentido do amor pelo planeta e todas as suas vicissitudes”, defende Dudude.

 “Numa escrita livre, Dudude promove, de forma muito natural, a aproximação entre a literatura, a poesia e a dança em Ela sentou na cadeira”, explica a coordenadora editorial da obra, Luciana Tanure. Segundo Tanure, Dudude traz um pouco da filosofia e do olhar dududianos sobre o mundo e o existir: “é um lugar singular como escrevedora, como ela mesma se autodenomina, e também um lugar como leitora, suas referências literárias, musicais e filosóficas numa narrativa fluida e poética, que não obedece a formatos”, acrescenta.

Para o coreógrafo João Saldanha, “Dudude é uma referência ativa da dança brasileira. Nesses anos de vida dançante, percorre por caminhos solitários na sua investigação de vida, ainda que recolhendo aqui e lá vários artistas que colaboram na sua inquietude. Expressionista, adula com a concretude das formas e se já desfaz de qualquer obrigatoriedade com elas. Dudude formou diversas gerações sem perder o seu maior motivo para dançar e criar trabalhos que operem nos mais distintos espaços. Uma solista que encheu os olhos de artistas como Pina Bausch, Katie Duck, Lisa Nelson, Stevie Paxton e outros muitos”, afirma.

Segundo a doutora em artes, diretora teatral e professora da Escola de Belas Artes da UFMG, Mônica Ribeiro, “esta obra resulta do hábito da artista de entretecer palavra e movimento em obras artísticas. Poesia, como lugar de movimento, transparece aqui na experiência narrativa. Dudude passeia pela ficção, permeada pela autobiografia, para pensar a improvisação em dança e sua relação com o viver”, diz.

 

Foto: Lena Maia

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